É impressionante como aprendemos, desde a mais tenra infância, a justificar nossos erros. Até assumimos nossas culpas, mas nossas desculpas sempre apontam um outro culpado. Nos atrasamos por causa do trânsito caótico, e não porque saímos atrasados de casa. Estamos irritadiços por causa da noite mal dormida, e não porque a televisão só foi desligada de madrugada. Saímos da dieta por culpa da torta de morango da confeitaria, pois ela estava muito aprazível!
Fazemos escolhas diariamente, as vezes mais de uma por minuto. Escolhemos o tom de voz que utilizamos, a roupa que vestimos, as pessoas com quem almoçamos, as pessoas com quem dividimos nossas expectativas, o caminho que vamos fazer para o trabalho, a educação que damos aos nossos filhos. Nosso desejo é que todas as nossas escolhas sejam corretas, mas temos ciência de que podemos errar em algumas delas.
Quando os erros acontecem, cabe-nos uma reflexão quanto ao porquê do nosso erro. Analisar os erros nos permite reprogramar nossa atenção para episódios semelhantes no futuro, além de reformular nosso conceitos e valores – algo importante para não nos acostumarmos aos erros, e que resulta em maturidade emocional e cognitiva.
Entretanto, infelizmente, desde cedo aprendemos a não refletir sobre nossos erros, pois é mais fácil apontar outros culpados, numa tentativa de evitarmos o castigo ou as consequências dos equívocos – mas sempre colheremos as consequências da mentira no trabalho, da infidelidade no casamento, da rebelião em uma igreja, do descontrole emocional na nossa vida social.
Há uma história antiga muito conhecida, associada a diversos autores, em que o pai de dois meninos bebia muito. O tempo passou, e quando estes já eram homens, depois do falecimento do pai, um parente veio visitá-los, e perguntou ao primeiro filho: "Por que você bebe?" E este respondeu: "Olha o pai que eu tenho!” Perguntou então ao segundo filho: "Por que você não bebe?" E, curiosamente, o segundo filho também respondeu: "Olha o pai que eu tenho!?!"
Mesmo sem poder remediar o comportamento paterno, o primeiro filho teve uma ótima justificativa para o seu erro - ele havia convivido com um pai beberrão, talvez violento e irresponsável. Este filho, como tantos hoje, teve exemplos em casa, imitou o comportamento de quem amava, se deixou levar pelos mesmos caminhos do pai, resolveu se identificar e escolheu a mesma vida e, sem dúvida, colheu as piores consequências.
O segundo filho também sofreu. A figura masculina não lhe era favorável, e passou vergonhas com vizinhos e amigos. Mas, como muitos de nós, ele resolveu avaliar as escolhas do pai e, mesmo amando-o, decidiu seguir o caminho oposto, colher da vida resultados diferentes. Afinal, ele tinha uma excelente justificativa para sua escolha de viver sóbrio!
Esta história aponta para uma verdade incontestável: não podemos evitar que as pessoas e o meio social nos alcance e nos afete, mas podemos escolher nossas reações a estas afetações. E, ao fazer estas escolhas, nós é quem vamos colher o ônus ou o bônus das mesmas ao longo dos anos.
Avalie a natureza dos seus erros e se posicione rapidamente para voltar a acertar. Não tente se justificar, mesmo que você tenha motivos aparentes. A escolha reflexiva e consciente de nossas ações sempre será mérito nosso – o comportamento dos outros pode nos afetar, mas não tem a força de nos definir!
Elaine Cruz
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