O deserto floresceu

Fazer a obra missionária não é nada fácil. Além do mais, quando essa chamada implica ir a um lugar deserto, com poucos recursos e longe da família. A missionária Íria de Sá Pinheiro, 55 anos, sabe muito bem disso.

Desde jovem, Íria abraçou a obra missionária. “Sou natural do estado do Maranhão, mas trabalho há 30 anos pela convenção da CEMEADAP, que é liderada pelo pastor Lucifrancis Barbosa Tavares. Vim como missionária ainda solteira, para Saint Georges, na Guiana Francesa. Trabalhei com indígenas da etnia Paliku. Aqui encontrei meu esposo e nos casamos. Ele foi apresentado ao ministério, pelo nosso atual pastor. Trabalhamos durante 16 Anos em um assentamento rural, chamado Vila de Bom Jesus, no estado do Amapá. Um lugarzinho no meio do nada. Quase sem estrutura alguma”, resume a missionária.

E foi lá que a irmã Íria começou a amar mais a sua chamada por Missões. Ela conta que para chegar à cidade mais próxima, (Tartarugalzinho), deveria ir andando 15 km a pé, no caminho da roça. “Mas para chegar a BR, precisávamos aguardar carros para pedirmos carona”, explica.

Dá para ver que a luta era grande naquele assentamento, e essa batalha também refletia no interior dela. Mesmo sendo filha de pastor e já ter tido experiências anteriores em campo missionário, Íria explica que a renúncia falava alto dentro do seu coração, todos os dias naquele lugar. “Eu vivia uma guerra interior, constantemente, mas olhava para o meu marido e via a alegria em seu rosto e pensava: ‘Será que ele está feliz mesmo?’”, lembra. 

Não era só o local que não tinha nada, consequentemente, a pobreza era vivida por todos daquele lugar. Houve momentos que a irmã Íria e seu marido, o pastor Edinelson Santos Pinheiro, 51 anos, não tinham o que comer dentro de casa. “Certa vez, saímos da Escola Dominical, sabendo que não tinha nada quando chegássemos a casa. Foi muito difícil. Diante a essa situação, vinha na minha mente: voltar não dá, não posso, não devo! Quem põe a mão no arado não pode olhar atrás. Mas ao mesmo tempo, a guerra interior permanecia dentro de mim”, ressalta. 

Os cultos aconteciam nas pequenas casas dos irmãos (pois não havia dinheiro para construir o templo). E foi em uma segunda-feira, onde estavam reunidos na sala de um casal, que a irmã Íria sentiu algo forte de Deus arder dentro do seu coração. O seu marido, o pastor Edinelson pregou no Salmo 23, mas de uma forma diferente e forte, segundo conta a irmã. Não havia eletricidade, o culto era iluminado por uma lamparina fraquinha, presente na sala cheia de irmãos. Mas ali mesmo, o poder de Deus caiu naquela noite. “Chorei do início ao fim. Deus passou o seu bálsamo no meu coração. As palavras verbalizadas, de que o deserto iria florescer, nasceu no meu coração. Tomei posse! Já não via mais a pequena localidade como um deserto. Usei a visão de fé e confiança. Deus abriu os meus olhos. Pude ver a prosperidade daquele povo. Eram somente nove famílias. E os irmãos dizimavam um ovo, colorau, dois peixinhos, por exemplo. Aprendi o que é ser fiel no pouco!”, testemunha.

Depois daquele culto, os olhos da missionária Íria se abriram, ela viu como aquelas famílias eram prósperas, pois eram fiéis no pouco. Foi então que Deus trouxe ao seu coração uma palavra que logo ela transmitiu ao seu marido. “O povo é fiel no pouco, isso sinaliza prosperidade! Vamos fazer uma campanha de oração às cinco da manhã, na nossa casa. Eu era a única que não tinha crianças. Convocamos o povo e fizemos nossa lista de necessidade: um templo, escola para as crianças (que não eram poucas), o projeto para que a localidade se tornasse assentamento, água encanada, luz e posto de saúde”, enumerou.

A oração começava às cinco da manhã, mas era às quatro que o povo começava a chegar. E Deus se alegrou com esta campanha. “A primeira bênção foi para nossa casa. Engravidei do meu primeiro filho e no quarto mês de gravidez, surgiu o primeiro concurso do Estado do Amapá, para Técnico em Enfermagem. Eu não tive fé, não queria fazer, mas meu esposo me incentivou muito. Foi uma luta para irmos. Saímos às quatro da manhã, a pé. Meu esposo na frente com lanterna e espingarda, outro irmão atrás e eu no meio, porque tinha muita onça! Fiz a inscrição. Um dia antes do concurso, fizemos o mesmo trajeto. Passei em sexto lugar, para glória de Deus!”, lembra. 

Deus agiu em tudo na vida deste casal. Pois, a missionária conta que não tinha nenhum recurso para comprar as coisas do bebê que estava chegando, mas Deus providenciou. Quando ela estava no 5º mês da gestação, foi chamada para trabalhar. “Deus entrou na causa, porque como estava grávida, quase não assinei o contrato. Mas, consegui. Trabalhei um mês e com o dinheiro do primeiro salário pude comprar tudo para o bebê. No dia seguinte, fui internada, fiquei 29 dias internada. Passei pelo vale da sombra da morte, tive eclampsia. Foi uma gravidez de risco, sofri ameaça de dois abortos, mas sobrevivi com meu filho, que nasceu com sete meses. Eu tinha 30 anos quando fui mãe”.

As respostas daquela campanha só continuavam a existir. O posto de saúde funcionava na pequena casa de taipa, coberta de cavaco, que era dos missionários e assim abençoava a toda comunidade. A própria Íria fez muito parto naquele lugar. 

O projeto para se tornar assentamento federal foi aprovado! Eles conseguiram construir o primeiro templo de madeira. Depois o segundo de tijolos, mais moderno. Ou seja, tudo que eles pediram, Deus atendeu!

foto 2 iriaDepois do primeiro filho do casal, Ângelo Neto, o médico falou para Íria que ela não podia engravidar novamente, pois como teve hipertensão, isso iria agravar muito mais. “Meu marido queria que eu fizesse a laqueadura lá no Maranhão, pois eu estava proibida pelos médicos de gerar. Mas eu não aceitava. O meu sonho era ter duas meninas e um menino. E sabe o que aconteceu? Depois de 1 ano e 4 meses, eu engravidei de novo e para nossa surpresa, o Senhor enviou gêmeas, duas meninas, Kelly Laurena e Lélia Âudrey. O Senhor realizou o desejo do nosso coração”, conta.

“Pelo fato de na época ter só até a quarta série, fomos obrigados a nos separar cedinho dos nossos filhos. Eles foram morar na cidade de Santana, na casa de um casal de amigos, para continuar os estudos. Ângelo tinha 11 anos e as meninas 9. Havia dias que eu e meu esposo passávamos maior parte da noite, no chão, orando pelos nossos filhos. Só nos reencontrávamos na época de férias escolares, mas Deus abençoou-os. Eles são verdadeiros milagres de Deus. Estudaram música. Ângelo é um maestro, professor de música e toca vários instrumentos. Lélia é enfermeira, flautista e pianista. Kelly é cirurgia dentista e saxofonista. Todos estão na casa do Senhor. Mérito do próprio Deus!”, testemunha a mãe. 

orquestra iria

O primeiro contato dos filhos dela com a música foram feitos pela própria Íria. “Aprendi a tocar violão com os meus pais e eu queria que eles se ocupassem na casa de Deus, durante a adolescência. Foi então que comecei ensinar os primeiros acordes a eles. E esta paixão deles pela música, só contribuiu para o projeto que estava na minha mente. O Projeto Florescer nasceu em 2009, onde ensinamos música, gratuitamente, as crianças e adolescentes do assentamento. Lembrando que Florescer foi a palavra que Deus me deu naquele culto e realmente floresceu”, explica. 

O Projeto Florescer cresceu e quatro anos depois de ter sido criado, a irmã Íria ganhou o troféu de vencedora do Prêmio CLAUDIA 2013, na categoria empreendedora social. “Este prêmio só faz lembrar-me de tudo que Deus colocou nas minhas mãos para fazer. Sou grata a Deus por cada aluno que formamos ali. Temos cerca de seis ex-alunos que agora são professores de música na capital, Macapá. Sem esquecer que existe a Orquestra Florescer onde eles tocam na igreja. Para glória de Deus!”, disse Íria. 

premio iriaE continuou: “Ficamos em Bom Jesus por 16 anos e há cinco saímos deixando multiplicadores. Eles continuam dando aula para as crianças. O que nasce no coração de Deus, nasce pra crescer, florescer e dar frutos. Saímos esvaziados, de tudo que o Senhor colocou em nosso coração para fazer!”, conta a missionária, que logo assim que saiu de Bom Jesus foi morar próximo aos filhos. “Deus nos deu de presente durante dois anos e meio morarmos juntos com nossos filhos. Presentão do Senhor!”, lembra. 

Mas como a obra não parou na vida do casal Íria e pastor Edinelson, há dois anos e meio eles voltaram para a obra missionária na Guiana Francesa. “Atualmente trabalhamos com os indígenas Gallibis Morrwornos e estamos dirigindo alguns trabalhos na igreja: discipulado, secretaria de missões, ministério com as crianças e o projeto Timóteo, onde é ministrado aulas de inglês e português, para filhos dos nossos irmãos brasileiros. Aqui lutamos contra a violência sexual com crianças e adolescentes indígenas e brasileiros não indígenas. Estamos alcançados mais almas para o Reino. E meus filhos estão servindo a Jesus! Ângelo está com 25 anos e Kelly e Lélia, 23. Os três trabalham na cidade de Pedra Branca, no estado do Amapá. Kelly já casou e tem uma filhinha chamada Hadassa. Só tenho que agradecer a Deus por tudo que Ele fez e fará na minha família”, finaliza Íria.

Por Luciene Saviolli

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