Vivemos em uma sociedade que, por muitos anos, desvalorizou o trabalho doméstico, tratando-o como algo menor, invisível ou mesmo irrelevante. No entanto, uma nova discussão tem ganhado força no mundo: a chamada economia do cuidado.
Esse conceito busca reconhecer o impacto econômico, social e emocional do trabalho realizado — em sua maioria — por mulheres dentro dos lares: cuidar da casa, preparar alimentos, zelar pelos filhos, idosos e doentes. É um trabalho essencial para a sustentação da sociedade e da economia, ainda que historicamente não seja remunerado nem valorizado como deveria.
Segundo um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), as mulheres realizam, em média, três vezes mais trabalho doméstico não remunerado do que os homens. No Brasil, dados do IBGE revelam que as mulheres dedicam quase 21 horas semanais a tarefas domésticas, enquanto os homens dedicam cerca de 11 horas. Se esse trabalho fosse devidamente contabilizado no Produto Interno Bruto (PIB), representaria uma fatia significativa da economia nacional.
Essa realidade, embora muitas vezes desgastante e solitária, também é profundamente espiritual e ministerial, quando vista à luz da Bíblia. O lar é o primeiro campo de serviço que Deus nos confia, e o cuidado da casa e da família pode — e deve — ser entendido como um ato de amor, obediência e ministério.
Cuidar é servir como Cristo
Jesus nos ensinou que servir é um caminho de grandeza no Reino de Deus: “Quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo.” (Mateus 20:26)
O serviço doméstico, embora pouco reconhecido socialmente, é uma das formas mais puras de amor prático. É na cozinha que alimentamos os corpos da nossa família, mas também acolhemos conversas e afetos. É na limpeza do lar que removemos a sujeira visível, mas também criamos um ambiente de paz, saúde e acolhimento. Trocar fraldas, lavar roupas, cuidar de um doente, organizar brinquedos — tudo isso pode ser feito como um ato de adoração a Deus, quando feito com amor.
A mulher virtuosa de Provérbios 31 é um exemplo de alguém que se dedica ao lar com sabedoria, diligência e temor do Senhor. Ela “vigia o andamento da casa e não come o pão da preguiça” (Provérbios 31:27), e isso não a diminui, pelo contrário: “Seus filhos se levantam e a chamam bem-aventurada; seu marido também a elogia” (v. 28). O cuidado da casa é apresentado como parte da dignidade e nobreza dessa mulher.
O lar como primeiro ministério
Para a mulher cristã, o lar não é apenas um espaço físico, mas um campo missionário. Cuidar da casa e da família é um chamado de Deus. Em Tito 2:4-5, Paulo orienta que as mulheres mais velhas ensinem as mais jovens a serem “cuidadosas com o lar, boas, sujeitas a seus maridos, para que a palavra de Deus não seja difamada.” Aqui, o cuidado do lar está vinculado à testemunha cristã, mostrando que o nosso modo de viver em casa também revela a nossa fé.
Esse ministério silencioso e constante é um terreno fértil para cultivar os frutos do Espírito: paciência, domínio próprio, bondade, amor. A mulher que se dedica ao lar com intencionalidade e fé está servindo a Deus tanto quanto alguém que prega num púlpito ou dirige um grupo de louvor.
A importância de reconhecer e valorizar
Valorizar o trabalho doméstico não significa aprisionar a mulher em casa, mas reconhecer que o que ela faz dentro de casa tem valor social, espiritual e econômico. E isso começa com a própria mulher. É preciso entender que lavar pratos, fazer comida ou ensinar os filhos em casa não são tarefas insignificantes, mas parte do cuidado de Deus por aquela família, através de suas mãos.
É tempo de mudar a narrativa. O mundo pode dizer que “trabalho de casa não é trabalho”, mas nós, como cristãs, sabemos que é sim — é serviço santo, é cuidado que sustenta vidas, é ministério no altar do lar.
Servir com alegria e propósito
Se você é uma mulher que cuida da casa e da família, saiba: o que você faz importa — e muito. Não se deixe levar pela comparação com os padrões do mundo. O Senhor vê cada esforço, cada lágrima silenciosa, cada ato de cuidado que ninguém valoriza, mas que Ele recolhe como perfume agradável.
Faça do seu lar um lugar de paz, da sua rotina um altar, e do seu trabalho um testemunho.
A economia pode não contar o que você faz, mas o céu conta.
“Tudo o que fizerem, façam de todo o coração, como para o Senhor, e não para os homens.” (Colossenses 3:23)
Flavianne Vaz
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