O tema da batalha espiritual frequentemente é interpretado de maneira equivocada. Algumas pessoas abordam essa questão de forma mitológica, excessivamente espiritualizada e subjetiva, como se a Bíblia não tratasse desse assunto com clareza.
Outras cometem o equívoco de negligenciá-lo completamente, como se habitássemos apenas um universo material e físico, ignorando as forças e seres espirituais que nos envolvem, as quais a Escritura Sagrada afirma com nitidez (Ef 6.11,12; Hb 12.1).
Ao explorarmos esse tema, é fundamental evitar dois enganos básicos. O primeiro é espiritualizar aquilo que pertence ao âmbito natural. Não podemos conduzir a vida cristã atribuindo conotações espirituais a situações e circunstâncias que demandam escolhas, reflexões, planejamento, uma nova conduta ou uma gestão eficiente. Muitos dilemas de nossa vida não serão solucionados exclusivamente por meio da oração; será imprescindível tomar decisões assertivas, adotar uma postura correta, prudente e responsável.
O outro equívoco, oposto ao primeiro, é secularizar o que é essencialmente espiritual. Há contextos que, por sua própria essência, são de natureza espiritual e exigem uma intervenção divina. Nessas situações, precisamos assumir uma postura diante de Deus, pois um embate espiritual não se resolve com planejamento, relatórios ou reuniões bem organizadas. Não podemos incorrer no equívoco de desconsiderar a atuação de Deus, como se Ele não tivesse autoridade para intervir em nossa trajetória e cotidiano.
Dessa forma, este artigo abordará esse segundo aspecto. Discutiremos a batalha espiritual e os momentos em que necessitamos nos comprometer com Deus, assumindo posicionamento verdadeiramente cristão.
Três princípios fundamentais sobre batalha espiritual
Primeiramente, é essencial compreender que a batalha espiritual é um conceito bíblico. Não é necessário buscar inúmeras literaturas de origem duvidosa para se aprofundar nesse tema. Essa temática está presente nos Evangelhos (Lc 10.19), no livro de Atos (At 3.6-8; 12.7-12) e nas epístolas apostólicas (1 Pe 5.8,9).
Destacamos também que para refletirmos sobre a batalha espiritual, devemos considerar três princípios fundamentais:
1. Discernimento
Precisamos saber diferenciar o que pertence ao mundo natural e o que pertence ao âmbito espiritual. Devemos distinguir entre aquilo que demanda decisões e uma boa administração e aquilo que é eminentemente espiritual, necessitando de oração, intercessão e embates espirituais (1 Co 2.14-16).
2. Palavra
A batalha espiritual é vencida por meio das Escrituras. A Bíblia evidencia que, quando Jesus Cristo foi tentado, Ele prevaleceu utilizando a Palavra, respondendo ao maligno: "está escrito" (Mt 4.4). Ninguém pode obter vitória espiritual se não maneja corretamente a Palavra, se não a conhece, não a estuda e não ouve sua proclamação.
3. Fé
Ninguém pode triunfar espiritualmente sem confiar no Senhor dos Exércitos, em Seu poder, no sobrenatural e na ação do Espírito Santo. A fé se contrapõe à incredulidade, que se manifesta quando alguém duvida das realizações divinas. Contudo, fé também não é credulidade, pois crer em qualquer coisa não significa possuir uma fé autêntica em Deus. Como está escrito: "A fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que não se veem" (Hb 11.1).
Portanto, ao abordarmos a questão da batalha espiritual, precisamos fundamentar nossas reflexões nesses três princípios essenciais: discernimento, Palavra e fé.
O que é, então, uma batalha espiritual?
A batalha espiritual é o embate contra o pecado, a morte e as forças malignas, como demônios e potestades, que atuam no mundo. A Igreja de Cristo – ou seja, cada cristão, cada autêntico discípulo de Jesus – participa dessa batalha ao se opor às forças do mal por meio da pregação do Evangelho, da oração e do poder do Espírito Santo. Esse confronto entre a Igreja, que é agente do Reino de Deus, e as forças das trevas caracteriza a batalha espiritual.
Note que, biblicamente, a batalha espiritual não se trata de conquistas individuais, reconhecimento pessoal, prosperidade profissional ou realizações materiais. O verdadeiro conflito espiritual está relacionado à expansão do Reino de Deus. Foi com essa perspectiva que Jesus declarou, em Mateus 16:18: "[...] Edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela". Jesus estava falando sobre o avanço do Reino de Deus, da obra da redenção e da proclamação do Evangelho ao mundo.
A batalha espiritual, portanto, envolve a difusão do Reino, a salvação de vidas, a libertação dos oprimidos, a cura dos enfermos e a manifestação do agir de Deus na humanidade.
No próximo artigo falaremos mais sobre esse assunto. Aguardem!
Um grande abraço
Flavianne Vaz
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