Quando falamos a palavra esgotamento, em seguida, vem à nossa mente a imagem de alguém que, em consequência de excesso de trabalho ou determinada tarefa, sente-se sem forças, sem motivação e sem muita esperança em si, nas pessoas e no futuro.
Alguns se esgotam fisicamente, outros mentalmente; é aquele momento de exaustão, de esvaziamento, quando os comentários a respeito de quem se encontra nesse estado são: “Ele(a) chegou ao limite”, “não aguenta mais”. Obviamente, ter o corpo e a mente sobrecarregados traz suas consequências.
Imagine comigo: como será um esgotamento espiritual? Será que existe? Alguém pode indagar: “Mas, se a Bíblia diz que o espírito está pronto e carne é fraca (Mt 26.41), como pode haver esgotamento, fadiga espiritual? ”É exatamente nisto que queremos refletir: às vezes, a exaustão física e mental pode levar ao esgotamento espiritual.
Como ocorre o esgotamento espiritual? Muitas vezes acontece quando, descomedidamente, a pessoa se entrega ao serviço de Deus, com esforço incomum, não se importando com os que estão em seu entorno e que poderiam bem ajudá-lo. Em geral, a pessoa acredita que o tempo que tem não pode ser desperdiçado, e que só ele ou ela é quem pode dar conta de tudo; e assim, continua por anos a fio, e até se esquece de cuidar de sua primeira igreja (marido, mulher, filhos, sua família).
Há um exemplo clássico de exaustão por causa de trabalho, e muito trabalho: Moisés. Pelo fato de querer obedecer ao chamado de Deus, quis fazer tudo sozinho, deixou a mulher e os filhos na casa de Jetro, seu sogro. Este, como um líder experiente, levou sua filha e netos de volta a Moisés, e em seguida, deu-lhe instruções sábias quanto ao trato com os seus liderados, que bem poderíamos classificar como dicas de uso da inteligência multifocal.
Jetro aconselhou Moisés a observar alguns pressupostos, tais como: trabalho em equipe, distribuição de tarefas, bom relacionamento interpessoal, como também a administração de conflitos. Ele deixou bem claro que se Moisés observasse esses princípios, evitaria um esgotamento físico/mental e consequentemente espiritual (Ex 18.13-19). Que Deus levante muitos "Jetros”, com visão de águia, que possam nos advertir antes que nos sobrevenha o esgotamento!
O esgotamento espiritual, diziam Freudenberger&Richelson1 "...vem de alguém que está num estado de fadiga ou frustração em consequência de sua devoção a uma causa, seu estilo de vida, seus relacionamentos, coisas que não trouxeram a recompensa esperada". Nunca devemos fazer algo para Deus visando atingir o topo, e sim sermos fiéis até a morte para recebermos o que Deus preparou para nós por meio de Jesus. Quem trabalha sem pretensões sofre menos, não tem medo do outro, e segue humilde em qualquer situação, como disse Paulo (Fl 4.12-13). Que lindo o exemplo do apóstolo dos gentios!
Também no livro dos Salmos, encontramos o relato de um esgotamento enfrentado por um servo de Deus chamado Asafe (Sl 73). Vemos, a princípio, um homem frustrado, decepcionado, desconfiado de Deus e do Seu poder: Asafe. Ele mesmo relata que se esgotou espiritualmente. Smith2 o menciona como um exemplo típico de esgotamento espiritual. Asafe começa dizendo que seus pés iam vacilando porque ele estava invejando os ímpios (Sl 73.2-12). Quando começou a fazer comparações, veio a frustração, e ele chegou a exclamar: “Na verdade que em vão, foi inútil manter o meu coração limpo” (v.11). Que tamanha decepção!
Enfim, ele reconhece seu esgotamento: “Quando tentei compreender isto, fiquei sobremodo perturbado” (v.16). No entanto, aqueles sentimentos de desânimo e profunda frustração só perduram até o momento em que o servo de Deus resolveu recorrer à presença de Deus: “... até que entrei no santuário de Deus; então, entendi eu o fim deles” (Sl 73.17). Assim como para Moisés a solução para evitar o esgotamento espiritual foi seguir os conselhos de seu sogro, Jetro, para Asafe, o remédio foi voltar os olhos para o Senhor!
A palavra “até” traz a ideia de delimitação de tempo e de espaço: a partir do instante em que entrou no santuário de Deus, Asafe passou a entender que, quando nos esgotamos espiritualmente, precisamos mudar o foco: em vez de olharmos para as circunstâncias que nos cercam, devemos firmemente olhar para Jesus!
O escritor aos Hebreus deixou-nos bem clara esta recomendação: “Portanto, nós também, pois, que estamos rodeados por uma tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo o embaraço e o pecado que tão de perto nos rodeia e corramos, com paciência, a carreira que nos está proposta, olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus” (Hb 12.1,2). Mantenha-se focado em Jesus, e assim você vencerá os embaraços desta vida, suportará sua cruz e evitará cair no poço do desânimo e do esgotamento espiritual.
Há algumas dicas que podemos enumerar aqui, inspiradas na verdade revelada na Palavra de Deus, que podem nos ajudar a evitar o esgotamento espiritual em nossa trajetória de fé. Vamos segui-las?
1) Viva uma vida com propósitos;
2) Procure fazer tudo para agradar a Deus;
3) Contente-se com o que é e com o que tem. A bênção está na mão de Deus e virá ao seu encontro quando Ele determinar;
4) Nunca se sinta injustiçado ao não ser reconhecida por algo que você faz para o Reino de Deus;
5) Faça todas as coisas sem murmurações nem contendas;
6) Pratique cada dia ser uma pessoa agradecida;
7) Por fim, confie que, nas horas de estresse, Deus chega para nos acolher, para nos entender e para nos guardar. Viva em Deus, por Deus e para Deus, e jamais você se esgotará espiritualmente.
Que o Senhor nos ajude a por em prática o que nos recomenda Sua santa palavra, e que possamos dia a dia nos fortalecer na fé, na esperança e no amor ao Senhor!
Judite Alves
*A CPAD não se responsabiliza pelas opiniões, ideias e conceitos emitidos nos textos publicados nesta seção, por serem de inteira responsabilidade de sua(s) autora(s).
1 Freudenberger, Herbert &Richelson, Geraldine. Queima Espiritual: o alto custo das grandes realizações. Nova York: Doubleday, 1981.
2 Smith, Malcolm. Esgotamento Espiritual. São Paulo: Editora Vida, 1993.