Em meio às exigências do cotidiano e às lutas da vida, é comum que muitas mulheres cristãs se sintam sobrecarregadas, invisíveis ou até mesmo incompreendidas. Nesses momentos de vulnerabilidade, um sentimento silencioso e enganoso pode se instalar: a autocomiseração, também conhecida como autopiedade ou vitimismo.
Esse olhar voltado excessivamente para as próprias dores e frustrações, ainda que pareça um consolo momentâneo, pode ser extremamente prejudicial a saúde emocional, a vida espiritual e as relações interpessoais.
A autocomiseração difere do autocuidado. Enquanto o autocuidado é saudável e bíblico, a autopiedade paralisa, isola e mina o propósito de vida. Ela leva a mulher a se enxergar constantemente como vítima, desviando seu foco de Deus para si mesma. O coração se fecha para o outro, para o servir e até mesmo para o agir do Espírito Santo. Em Provérbios 18:1, a Palavra já nos alerta: "O solitário busca o seu próprio interesse e insurge-se contra a verdadeira sabedoria."
A Bíblia nos apresenta exemplos que ilustram as consequências da autocomiseração. Jonas, por exemplo, ao invés de alegrar-se com o arrependimento dos ninivitas, lamentou-se ao ponto de desejar a morte (Jonas 4:3). Sua autopiedade o impediu de celebrar a graça de Deus na vida do outro. Elias, depois de grandes vitórias, sentiu-se tão abatido e sozinho que pediu a Deus que tirasse sua vida (1 Reis 19:4). Mas o Senhor, cheio de amor, não o repreendeu duramente; antes o sustentou com alimento, descanso e direção.
Esse cuidado divino é a chave para romper com os ciclos de autocomiseração. O amor de Deus, derramado em nossos corações pelo Espírito Santo (Romanos 5:5), é capaz de curar feridas profundas e restaurar o ânimo. Quando compreendemos o quanto somos amadas, fortalecidas e chamadas para um propósito, nosso olhar muda. Passamos a enxergar o outro com empatia, a estender a mão com amizade sincera e a servir com alegria — sem perder o equilíbrio do cuidado pessoal.
Jesus, nosso maior exemplo, mesmo diante de sua dor, nunca mergulhou em autopiedade. Ele olhava ao redor e via quem precisava ser curado, ensinado, acolhido. A mulher cristã é chamada a imitá-Lo: servindo, amando e, ao mesmo tempo, cuidando de sua saúde emocional, física e espiritual para viver com vigor a missão que lhe foi confiada.
Deus não nos criou para vivermos centradas em nossas dores, mas para sermos curadas e curadoras. Quando abandonamos a autocomiseração e acolhemos a verdade do Evangelho, florescemos. Como está escrito: "O Senhor está perto dos que têm o coração quebrantado e salva os de espírito abatido" (Salmo 34:18). Que possamos, fortalecidas pelo amor de Deus, viver com propósito, saúde e alegria — olhando para frente e para o alto, e também ao redor, para ajudar com amor e ser resposta onde Ele nos colocou.
Até mais queridas.
Sonia Pires
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