Há muitos que confundem vida familiar com vida conjugal, como se os termos carregassem o mesmo significado. Na verdade, a vida conjugal é a base da vida familiar – toda família se inicia a partir do compromisso entre duas pessoas, que unidas vão somar recursos e projetos de vida, ter filhos e viver como uma célula social.
Assim sendo, não são os filhos que inauguram uma família, mas o casamento. Um casal já é uma célula familiar distinta das famílias de origem, com regras e estruturas familiares.
A família é, portanto, uma instituição complexa, onde podem coexistir três relações diferentes e interdependentes.
A primeira é a relação conjugal que acontece entre o casal adulto, em que se aprende a partilhar afetos, sonhos e projetos. Conjugar a vida é aprender diariamente a conhecer melhor o cônjuge, partilhando todas as fases e momentos de vida do outro. A relação conjugal também forma nos filhos as concepções de família, afeto conjugal e de casamento. Pais mais entrosados, que trocam carinhos (não carícias) na frente dos filhos, e que vivem uma unidade conjugal, formam filhos mais equilibrados social, espiritual e emocionalmente, além de maduros para envolvimentos afetivos posteriores.
A relação conjugal deve ser reverenciada como a relação mais importante após a conversão: O homem que não é casado preocupa-se com as coisas do Senhor, em como agradar ao Senhor. Mas o homem casado preocupa-se com as coisas deste mundo, em como agradar sua mulher, e está dividido. Tanto a mulher não casada como a virgem preocupam-se com as coisas do Senhor, para serem santas no corpo e no espírito. Mas a casada preocupa-se com as coisas deste mundo, em como agradar seu marido. Estou dizendo isso para o próprio bem de vocês; não para lhes impor restrições, mas para que vocês possam viver de maneira correta, em plena consagração ao Senhor. (1 Coríntios 7.32-35).
A relação conjugal ainda evidencia o relacionamento espiritual dos cônjuges, pois o bom entrosamento de ambos reflete, inclusive, nas suas orações: Do mesmo modo vocês, maridos, sejam sábios no convívio com suas mulheres e tratem-nas com honra, como parte mais frágil e co-herdeiras do dom da graça da vida, de forma que não sejam interrompidas as suas orações. (1 Pedro 3.7). A relação conjugal é, ainda, fundamental para o exercício do ministério sacerdotal e parental: É necessário, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma só mulher, sóbrio, prudente, respeitável, hospitaleiro e apto para ensinar; não deve ser apegado ao vinho, nem violento, mas sim amável, pacífico e não apegado ao dinheiro.
Ele deve governar bem sua própria família, tendo os filhos sujeitos a ele, com toda a dignidade. Pois, se alguém não sabe governar sua própria família, como poderá cuidar da igreja de Deus? (1Timóteo 3.2-5).
A segunda é a relação parental, que acontece entre pais e filhos, e forma as noções de autoridade e submissão, bem como os ensina a obedecer normas, respeitar os mais velhos e adaptar-se às doutrinas e regras sociais e emocionais. Na sociedade atual, onde a mídia subverte a educação dos pais, a construção da autoridade paterna e materna, sadia e firme, é de fundamental importância.
A terceira é a relação filial, que acontece entre irmãos, e forma nos filhos a habilidade de trocar, negociar e partilhar. Ensina a convivência com os pares, primeiramente com os irmãos, passando pelos amigos da rua e da escola, e chegando até aos membros da igreja, e aos futuros colegas de trabalho e sócios na vida profissional.
As relações parental e filial se originam da relação entre os cônjuges. Portanto, o cuidado com a vida conjugal é fundamental, sendo o espaço para iniciar, tratar e renovar nossas famílias.
Elaine Cruz
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