O homem, prático e direto para lidar com a grande maioria das questões da sua vida, usa a fala como ferramenta específica de comunicação. Através dela ele comunica fatos, colhe informações sobre o mundo e as coisas, negocia pontos de vista, e mais raramente expressa seus desejos e medos. Se não há nada novo a ser comunicado, ele desliga a ferramenta e aproveita para descansar um pouco: ele se cala.
A mulher usa a fala para comunicar fatos e idéias, mas para ela a fala tem também outras utilidades. A fala serve para que ela elabore e organize seu pensamento, e não raro a sua forma de pensar adquire um formato de perguntas e respostas, onde ela mesmo pergunta e se responde. Ela também fala sozinha com maior frequência – embora o homem também o faça quando em situações de estresse ou desconforto.
A fala, para a mulher, também funciona como um mecanismo de alívio de estresse. Quanto mais estressada, mais ela precisa falar para não “explodir”. É como se ela descarregasse a tensão enquanto as palavras saem pela boca, aliviando-se internamente e reassumindo o controle das suas emoções. Portanto, ela precisa falar, mesmo que aparentemente seu marido ou sua amiga não a ouça – o problema é que, ao perceber que não foi ouvida, ela recomeça a falar a mesma coisa minutos depois!
Por fim, a mulher fala também para se relacionar. Falar, para ela, é tão bom quanto namorar, dar as mãos ou olhar nos olhos (se ela puder fazer tudo ao mesmo tempo é a glória!).
É óbvio que para toda regra há exceções, de modo que pode existir um homem mais falante que a esposa. Mas em geral a mulher percebe a fala como veículo de afeto, como um canal para trocar intimidade e tocar a alma do outro. E o ideal é que a mulher aprenda a ser mais amiga e usar a fala para se comunicar com o marido, e este será muito mais romântico quando aprender a usar a fala como expressão de intimidade.
Deus fez homens e mulheres bem diferentes. E com o tempo, percebemos que as diferenças são fundamentais para a vida a dois: o prático precisa do subjetivo, o silencioso precisa do falante, o desorganizado precisa do meticuloso, o negativista precisa do positivista, o acelerado precisa do calmo.
Ao lidar com o outro, lidamos conosco, com os nossos defeitos e nossas qualidades, com nossos valores e nossas vivências. Assim sendo, ao longo da vida conjugal vamos aprendendo sobre nós mesmos, e vamos aperfeiçoando o nosso conhecimento do cônjuge e nos adaptando à ele. Machos e fêmeas aprendem uns com os outros a serem homens e mulheres, maridos e esposas, amigos e cônjuges, mais parecidos em suas condutas do que irmãos.
O mais interessante é que, com o passar dos anos, passamos a trocar e a tomar emprestado do cônjuge aprendizagens para a nossa vida, quando então melhoramos e nos aprimoramos como sócios – aquela que falava muito aprende a ouvir e a se calar, aquele que se fechava consegue falar de seus sentimentos e chorar as suas dores.
Desde o namoro, e especialmente no casamento, quando ajustamos as diferenças, o uso afetivo da nossa fala se torna uma ferramenta de unidade e cumplicidade. Sempre respeitando a individualidade, o diálogo passa a ser mais do que um caminho para negociar ou acordar termos de uma proposta de vida conjugal: dialogar passa a ser um ato de unidade e troca de afeto, tratando medos e dores, e unindo os afetos e projetos de vida.
Elaine Cruz
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