Desde que nascemos vivemos em um sistema dualista, onde estamos sempre lidando com nossa individualidade e a coletividade em que estamos inseridos.
Somos únicos em nossa aparência (mesmo os gêmeos têm diferenças externas e orgânicas), em nossa maneira de conduzir nossas atitudes, e na forma de temperar nossas emoções. Mas, por outro lado, nascemos em uma família, somos cercados, amados e formados por outros, e vamos incorporando reações, aprendendo comportamentos, assimilando regras e convenções sociais, e internalizando conceitos e valores.
Estamos inseridos em uma coletividade, somos seres intrinsecamente sociais. Contudo, ao mesmo tempo que a coletividade nos molda, vamos construindo nossa individualidade, nos tornando únicos e singulares, com vivências pessoais e percepções individuais.
Ninguém tem exatamente as mesmas memórias ou vivências internas – e Deus nos trata individualmente, inclusive para julgamento e para a salvação, pois só ele é capaz de nos conhecer, nos identificar no meio de tantos outros, e nos diferenciar dos outros com quem convivemos. Afinal, O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração (1 Samuel 16.7); Todos os caminhos do homem lhe parecem puros, mas o Senhor avalia o espírito (Provérbios 16.2).
A beleza da vida subjetiva está no equilíbrio entre o individual e o coletivo, entre as nuances cotidianas do relacionamento inevitável entre o eu e os outros.
Há pessoas sociáveis, que parecem conviver bem com os outros, mas que se esmeram na sociabilidade porque não gostam de estar sozinhas consigo mesmas. Não conseguem resolver suas vidas sozinhas, dependem sempre das opiniões alheias, investem tempo para cuidar de todos à sua volta, e abandonam suas próprias carreiras, projetos, famílias e anseios. Vivem para os outros, fazem só o que os outros aprovam, passam por cima de valores fundamentais à fé para não perder “amigos" e parentela, e com o tempo podem fazer morrer sua fé, seus valores e perspectivas pessoais.
Outros não gostam de pessoas, e se tornam egoístas e mesquinhos. Estão sempre buscando seus direitos, sem se importar com o direito dos outros – mesmo em períodos como este de pandemia, em que é direito do outro que usemos máscara para a saúde alheia, há muitos que, intencionalmente, quebram as regras de convivência social determinadas por lei. Assim como não respeitam a propriedade do outro, fazendo pixação em residências alheias, e desrespeitam leis de trânsito ou regras importantes para a segurança no trânsito de veículos.
Precisamos considerar a consciência coletiva, aprendendo a desenvolver atitudes que envolvam a boa convivência entre as pessoas com quem nos relacionamos em nossa vida cotidiana. A consciência de manter a cidade limpa, de respeitar os horários de ruído nos condomínios, de tratar com deferência as pessoas que nos ajudam em casa e na portaria dos edifícios, de respeitar as opiniões alheias, de servir bem aos chefes que nos abrem porta de emprego, bem como honrar os pastores que nos pastoreiam.
É possível ser singular sem deixar de ser plural. Desenvolver a vida pessoal sem abandonar a educada sociabilidade. Aprender a manter os posicionamentos individuais sem desrespeitar a coletividade.
Aprendemos, aqui na terra, a viver no céu. E é sempre bom lembrar que no céu vamos viver em comunhão para todo o sempre!
Elaine Cruz
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