Elaine Cruz

Elaine Cruz é psicóloga clínica e escolar, com especialização em Terapia Familiar, Dificuldades de Aprendizagem e Psicomotricidade. É mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense, professora universitária e possui vários trabalhos publicados e apresentados em congressos no Brasil e no exterior. Atua como terapeuta há mais de trinta anos e é conferencista internacional. É mestre em Teologia pelo Bethel Bible College (EUA) e membro da Academia Evangélica de Letras do Brasil. Como escritora recebeu o 'Prêmio ABEC de Melhor Autora Nacional' e é autora dos livros “Sócios, Amigos e Amados”, “Amor e Disciplina para criar filhos felizes” e o mais recente, "Equilíbrio Emocional", todos títulos da CPAD.

Lembranças saudosas

A saudade pode ser definida como um sentimento causado pela distância ou pela ausência de alguém ou de algo, que pode ser um objeto, ou um acontecimento vivenciado, como um jantar ou uma viagem.

Sentimos saudades de pessoas. Há saudades de algo que aconteceu, intensa vontade de reviver certos momentos, ou de simplesmente lembrar fatos e datas que sabemos que não mais voltam. Sentimos saudade de eventos do passado que nos marcaram positivamente, como alguns momentos da infância, o dia de formatura ou do casamento, ou até mesmo a convivência harmoniosa com alguém "saudoso" que já faleceu.

Temos saudades de restaurantes que servem manjares deliciosos, de amigos que se afastaram, da emoção de ter um bebê se mexendo dentro do útero materno, de uma viagem inesquecível, de uma cidade que nos marcou, dos filhos pequenos, do barulho provocados pelos filhos adolescentes, de uma música que nos remete a bons momentos, de pessoas que marcaram a nossa vida. Afinal, só quem viveu a possui.

Podemos sentir saudades de beijos e abraços, de olhares e canções que aquecem a alma, de sentimentos esquecidos e embotados. Há pessoas viúvas que sentem saudade dos abraços, das conversas silenciosas, da convivência de quem amavam, da beleza de poderem ter tido pessoas queridas testemunhando suas vidas.

A palavra saudade não possui uma palavra correspondente, ou uma tradução literal em muitas outras línguas. Ela tem origem no latim, com o significado de solidão ou distanciamento de algo que se deseja. Segundo a história, esta palavra surgiu no período dos descobrimentos, pois definia a solidão que os portugueses vindos para o Brasil tinham da sua terra e dos seus familiares, por vivenciarem a melancolia por se sentirem tão sozinhos e distantes dos que amavam.

A Bíblia cita a dor saudosa dos israelitas, na ocasião em que foram para o cativeiro, pois tal como os portugueses, eles também tinham saudades de Sião: Junto aos rios da Babilônia nós nos sentamos e choramos com saudade de Sião. Ali, nos salgueiros penduramos as nossas harpas; ali os nossos captores pediam-nos canções, os nossos opressores exigiam canções alegres, dizendo: "Cantem para nós uma das canções de Sião!" Como poderíamos cantar as canções do Senhor numa terra estrangeira? Que a minha mão direita definhe, ó Jerusalém, se eu me esquecer de ti! Que a língua se me grude ao céu da boca, se eu não me lembrar de ti, e não considerar Jerusalém a minha maior alegria! (Salmo 137.1-6).

A saudade os fazia chorar, tirava deles o desejo de entoar cânticos alegres, de modo que penduraram seus instrumentos. Havia muita saudade do templo, tristeza por estarem distantes da terra e da cidade amada de Jerusalém. Era uma saudade doída, que amargava a vida e os faz lamentar pelos erros de outrora.

O apóstolo Paulo também sentiu muitas saudades de pessoas e de igrejas que havia plantando e visitado, especialmente quando esteve preso e não podia rever seus queridos filhos na fé. Varias vezes eles escreveu: Deus é minha testemunha de como tenho saudade de todos vocês, com a profunda afeição de Cristo Jesus. (Filipenses 1.8); Portanto, meus irmãos, a quem amo e de quem tenho saudade, vocês que são a minha alegria e a minha coroa, permaneçam assim firmes no Senhor, ó amados! (Filipenses 4.1); Nós, porém, irmãos, privados da companhia de vocês por breve tempo, em pessoa, mas não no coração, esforçamo-nos ainda mais para vê-los pessoalmente, pela saudade que temos de vocês. (1 Tessaloniceses 2.7); Lembro-me das suas lágrimas e desejo muito vê-lo, para que a minha alegria seja completa. ( 2 Timoteo 1.4).

Assim como acontecia com Paulo, quando amamos pessoas que moram longe, como pais, filhos e netos, sentimos saudade da proximidade. E quando podemos estar próximos, ainda assim, mesmo quando os abraçamos e passamos uns dias juntos, a saudade permanece, como se ela se instalasse na alma, que conhece a dor que a distância provoca nos que se amam.

Sim. A saudade dói.

Hoje, ao escrever este artigo, eu estou repleta de uma dor saudosa, pois dois anos se completam da morte da minha mãe. E por mais que eu saiba que ela está nos braços do Pai, que já alcançou a salvação pela qual ela tanto lutou e perseverou, basta olhar uma foto, ou escutar uma canção que ela tocava em seu violino, para sentir a dor da saudade partir o coração.

Saudades nos afetam. Atestam que construímos boas memórias e vivenciamos momentos agradáveis. E, consequentemente, também apontam para a nossa constante necessidade de planejar o futuro, projetando momentos de afeto na convivência com pessoas que nos marcam com boas saudades!

Que tenhamos saudades de quem amamos, saudades do céu para onde ainda iremos, e saudades da Casa de Deus. E que possamos nos esforçar para amar e afetar pessoas positivamente, mesmo que, ao nos afastarmos delas, deixemos um rastro de boas saudades e preciosas lembranças!

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Elaine Cruz 

*A CPAD não se responsabiliza pelas opiniões, ideias e conceitos emitidos nos textos publicados nesta seção, por serem de inteira responsabilidade de sua(s) autora(s).

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