Há um ditado popular bem conhecido desde os primórdios da sociedade, que diz: “vou pagar na mesma moeda”. E todos compreendemos seu significado, que é pagar do mesmo modo o serviço ou desfavor recebido; retribuir da mesma maneira, ou dar o troco correspondente ao que recebemos.
Retribuir o outro na mesma medida, ou fazer o outro pagar pelo que fez, ou ainda acertar as contas com o outro, é um desejo expresso por muitos. E este anelo é tão antigo e usual, que a Bíblia o cita em Provérbios 24.29: Nunca diga: “Vou lhe pagar com a mesma moeda. Vou acertar as contas com ele!” (NTLH).
Analisando outras versões do mesmo versículo, fica explícito o significado da expressão pagar na mesma moeda: E não diga: "Farei com ele o que fez comigo; ele pagará pelo que fez". (NVI); Não diga: "Agora vou me vingar do que ele me fez! Vou acertar as contas com ele!” (NVT); Não digas: Como ele me fez a mim, assim lhe farei a ele; pagarei a cada um segundo a sua obra. (ARA).
Nossa tendência natural é retribuir a ofensa, pagar mal com mal, dar o troco que julgamos merecido, explorar nossa vingança, acertar as contas para não nos sentirmos diminuídos, fazendo o outro pagar pelo que nos fez. Mas a verdade é que pagar na mesma moeda não cura a mágoa, ou elimina a dívida do outro – só serve para aumentar o valor do débito, ampliando ainda mais a distância e o desafeto entre pessoas.
Não é fácil engolir afrontas.
É muito complexo lidar com pessoas iracundas e agressivas, que ferem intencionalmente com palavras injustas, mentirosas e cruéis.
É doloroso ouvir críticas ou julgamentos que sabemos não merecer, e optarmos por deixar que o tempo declare nossa inocência.
É dificílimo calar quando sabemos ferir quem nos fere, especialmente quando conhecemos os pontos fracos de quem nos agride.
É natural que desejemos retribuir as ofensas, dar o troco em quem nos fere, ou simplesmente usar nossas moedas para esfregar na face do outro a nossa revolta, mesmo que seja para expressar nossas razões. Contudo, quanto mais ferimos, mesmo quando somos feridos, mais abrimos feridas em nós mesmos.
Eu sempre costumo dizer que prefiro que o outro erre comigo, do que eu ter que conviver com o remorso de saber que eu errei ou feri o outro. Por isso, prefiro me calar, chorar sozinha diante de Deus, aquietar minha irritação em silêncio, me afastar para orar, cantar para espantar a dor ou revolta que insiste em crescer. Não é fácil, por vezes não consigo cumprir minhas metas com maestria (sou humana, e solto uma palavra ou um olhar), mas sigo tentando…
Ao invés de gastar suas moedas dando trocos na agressão alheia, ou de jogar suas moedas à mesa e desmascarar o agressor, pagando para se chatear ainda mais, e podendo ser ainda mais machucado a partir do seu ato vingativo ou no ímpeto da revolta, guarde as suas moedas.
Não vale a pena gastar com ouro para mirar focinhos de porco, ou devolver em moedas coisas que vão nos custar a paz, a harmonia familiar, ou o bom ambiente no espaço de trabalho. Nenhuma moeda tem valor para pagar pela nossa paz de espírito, e não há preço para a harmonia familiar, conjugal e parental.
O tempo ajuda a amenizar a ira, a oração auxilia a cura da dor, a leitura bíblica lava as feridas da alma, o silêncio nos ajuda organizar as palavras corretas.
Economize suas moedas para gastá-las com afeto, poupe para investir suas palavras com coisas boas e lícitas, com doações de expressões de gratidão com as pessoas que amam você.
Guarde suas moedas para poupar sua fé e sua boa consciência.
Elaine Cruz
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