É muito comum que a gente ouça pessoas dizendo que fizeram coisas erradas, ou falaram coisas desnecessárias, "sem pensar". Quando ouvimos, geralmente damos um desconto pois, afinal, o agir ou a fala da pessoa parece que a dominaram de tal forma que o seu filtro social não funcionou.
Na verdade, é perfeitamente viável perdermos coisas porque não estávamos atentos no momento em que as guardamos ou deixamos em algum lugar. Assim como podemos dirigir de casa até o trabalho, ou simplesmente pegar uma condução até a igreja que frequentamos, e simplesmente não conseguirmos nos lembrar de como chegamos até lá. Nestes casos, nosso pensamento estava voltado para outros assuntos (menos ou mais importantes), e nossa atenção estava direcionada para outras questões. Contudo, é importante considerar que estávamos conscientes, concentrados em cada vez que paramos em um sinal vermelho, ou prestando atenção (mesmo que secundária) nas curvas da estrada.
O fato de não nos lembramos com detalhes do percurso percorrido só aponta para o fato de que fazemos muitas coisas de forma automatizada, especialmente quando são tarefas ou afazeres cotidianos ou ações repetidas com frequência. Nossa mente é inteligente, programada para repetir atos, tendo a tendência a automatizar movimentos. Afinal, não sairíamos do lugar se pensássemos em cada passo, inspiração ou piscada de olhos.
Quando começamos a dirigir, nossa atenção a cada passada de marcha no carro é altamente concentrada, mas ao longo dos anos passamos as marchas de modo automático. De forma semelhante, caminhamos de forma automatizada, sem a percepção de como vamos alternando as passadas ao longo do caminho.
Comportamentos automáticos só são possíveis quando se tornam superaprendidos. Quando praticamos uma ação repetidas vezes, acabamos nos tornando tão habilidosos na tarefa pretendida, que poderemos realizá-la com pouca atenção ou nenhum pensamento direcionado. Só por este motivo conseguimos caminhar ou dirigir fazendo outras tarefas, como cantar, conversar, arrumar o cabelo ou falar ao telefone (não quando estivermos ao volante de um carro…).
Dentro desta perspectiva, portanto, quando uma pessoa age de forma impulsiva, sem pensar ou analisar seus atos, ela só fará algo que já está acostumada a fazer. Nosso comportamento habitual direciona nosso automatismo, e um exemplo disto é a pessoa que, no seu dia de folga do trabalho, ao pegar no carro para ir ao mercado ou ao shopping, acaba pegando o caminho do trabalho!
Assim sendo, uma pessoa que tem a tendência de falar mal dos outros, se não estiver muito atenta à sua fala, acabara denegrindo a imagem de uma pessoa que diz gostar. Quem está acostumado a falar palavrão em casa, mesmo se dizendo evangélico, pode soltar um palavrão bem cabeludo quando tiver a oportunidade de testemunhar em sua igreja – ou seja, a prática cotidiana direciona seu comportamento, adequado ou não, mesmo em situações sociais que exijam decência e parcialidade.
De forma semelhante, quando alguém se desculpa dizendo que falou algo sem pensar, na realidade está exteriorizando algo que já foi pensado, conceituado e valorizado, mesmo no silêncio do seu pensamento. O próprio Jesus já declarou: Raça de víboras, como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? Pois a boca fala do que está cheio o coração. (Mateus 12.34).
Se nossa fala e nossas ações refletem nosso coração, que possamos analisar melhor nossos conceitos, nossos valores, e nossas ações e expressões ditas automáticas, atentando para o que Jesus nos diz: O homem bom, do seu bom tesouro, tira coisas boas, e o homem mau, do seu mau tesouro, tira coisas más. Mas eu lhes digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado. Pois por suas palavras você será absolvido, e por suas palavras será condenado. (Mateus 12.35-37).
Elaine Cruz
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