Séculos antes da descoberta dos neurônios e da organização do sistema nervoso, a dor física já era reconhecida como entidade que pode ter uma causa física, mas sempre um componente psicológico.
Hoje sabemos que a dor nem sempre é decorrente de uma doença, mas pode ser quase toda doença. Nem sempre é um mal-estar, porque em momentos de gozo supremo, pode haver simultaneamente um misto de dor, prazer ou superação. Isto porque a ansiedade ou a depressão alteram substancialmente o limiar da dor, o que explica porque um soldado consegue manter toda a concentração na batalha, mesmo com um membro esmagado, ou como um esportista pode não sentir dor mesmo com um músculo traumatizado por um grande esforço.
A dor nem sempre é igual, e implica em um certo nível de consciência. A Escala de Glasgow aponta que é necessário um determinado grau de consciência, de despertar, para reagir ao estímulo da dor. E a dor ainda pode não estar associada diretamente a uma fratura ou órgão existente no corpo: cerca de dez por cento dos paraplégicos podem sentir dor nos membros paralisados, igual à dor do membro fantasma que foi amputado.
Se colocarmos o teto de “10” para a dor máxima suportável, veremos que a dor máxima para uns pode ser apenas “9”, mas para outros pode ser “8”. Os mesmos quadros de doenças, em doentes diferentes, pode reproduzir dores diferentes, e ainda assim as dores de um doente vai variar de acordo com sua estrutura emocional e mental.
Se não conseguimos estabelecer limites para dores físicas, tudo se torna ainda mais complexo quando falamos de dores emocionais. A dor é íntima, só plausível para a pessoa que a sente, de modo que própria Bíblia afirma: Cada coração conhece a sua própria amargura… (Provérbios 14.10).
Algumas passagens bíblicas apontam para dores emocionais extremas: Estou encurvado e muitíssimo abatido; o dia todo saio vagueando e pranteando. Estou ardendo em febre; todo o meu corpo está doente. Sinto-me muito fraco e totalmente esmagado; meu coração geme de angústia. Meu coração palpita, as forças me faltam; até a luz dos meus olhos se foi. (Salmos 38:6-8, 10); Meus olhos estão cansados de chorar, minha alma está atormentada, meu coração se derrama, porque o meu povo está destruído, porque crianças e bebês desmaiam pelas ruas da cidade… Fez que a minha pele e a minha carne envelhecessem e quebrou os meus ossos. Ele me sitiou e me cercou de amargura e de pesar. Fez-me habitar na escuridão como os que há muito morreram. Cercou-me de muros, e não posso escapar; atou-me a pesadas correntes. (Lamentações 2.11; 3:4-7).
Todos nós já vivenciamos dores, aflições, angústias e tristezas extremas. Sabemos o que é acordar um dia e pensar que estamos vivenciando um grande pesadelo, ou terminar um dia achando que não conseguiríamos encarar o dia seguinte. Muitas vezes nos perguntamos o quanto ainda aguentamos afrontas, calúnias, traições ou doenças atrozes.
A verdade é que nossos limites podem até ser diferenciados, pois temos vivências, experiências e maturidade emocionais distintas. Portanto, precisamos considerar duas coisas.
A primeira é aprender a não apontar fraquezas alheias. Há pessoas mais fortes, que já vivenciaram muitas desgraças e aflições, enquanto outras ainda estão sendo forjadas nas dores da vida, sejam elas físicas ou emocionais.
E a segunda é sempre lembrar que Deus conhece exatamente as nossas limitações - enquanto nos prepara para desafios maiores. Ele não deixará que sejamos tentados além do nosso limites: Deus é fiel; ele não permitirá que vocês sejam tentados além do que podem suportar. Antes, quando forem tentados, ele mesmo providenciará um escape, para que a possam suportar. (1 Coríntios 10.13).
De forma semelhante, ele é aquele que fecha nossas feridas, que trata nossos traumas e que pode curar todas as nossas dores emocionais. Deus nos conforta na solidão, nos abraça nas noites frias, e concede uma paz que excede todo entendimento e compreensão humana.
Portanto, seja forte. Deus não permitiu que a dor ultrapassasse os seus limites. Você vencerá este dia, e muitos outros amanhãs! E quando menos perceber, sua dor ficará amena, suas lágrimas vão diminuir e sua alegria retornará!
Elaine Cruz
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