Vivemos em um tempo onde a velocidade da comunicação nem sempre acompanha a profundidade do entendimento. A mulher cristã, chamada para ser sábia, edificadora e cuidadora, precisa redescobrir e valorizar uma habilidade que tem sido negligenciada: a escuta verdadeira.
Saber ouvir é mais do que permanecer em silêncio enquanto o outro fala; é um ato de atenção, empatia e, acima de tudo, amor.
A Bíblia nos exorta diversas vezes a ouvir com sabedoria. Em Tiago 1:19, lemos: "Todo homem, pois, seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar." Esse versículo nos chama à reflexão sobre o lugar que a escuta ocupa em nossas atitudes diárias. Muitas vezes, ao ouvir alguém, já estamos mentalmente formulando a resposta, julgando ou simplesmente distraídas com nossas preocupações. Isso nos impede de oferecer uma presença acolhedora e sensível.
Jesus, nosso maior exemplo, sempre demonstrou disposição para ouvir. Ele escutava com atenção os doentes, os pecadores, os aflitos e até os que queriam colocá-lo à prova. Em João 4, no encontro com a mulher samaritana, Ele não a interrompe nem a corrige imediatamente. Primeiro, ouve sua história e suas perguntas, criando um espaço de acolhimento antes de apresentar a verdade transformadora. Como seria nosso testemunho cristão se adotássemos essa postura nos relacionamentos familiares, ministeriais e sociais?
Para muitas mulheres, falar é uma das formas mais naturais de expressão. Somos conselheiras, comunicadoras, educadoras. Contudo, o equilíbrio entre falar e ouvir é o que gera sabedoria. Provérbios 18:13 adverte: "Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha." Ouvir com atenção é uma forma de humildade que permite aprendermos com os outros, inclusive com Deus.
Na vida de oração, por exemplo, quantas vezes falamos sem dar espaço para Deus nos responder? A verdadeira comunhão com o Senhor também exige silêncio e escuta. O profeta Elias descobriu isso quando, no monte Horebe, Deus não se revelou no vento forte, nem no terremoto, mas em um suave sussurro (1 Reis 19:11-12). Às vezes, nossa fé só cresce quando aprendemos a silenciar e escutar.
Além disso, ouvir o próximo é uma expressão prática de amor. Romanos 12:15 nos ensina: "Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram." Como podemos viver isso sem antes parar para escutar a dor ou a alegria do outro? O exercício da escuta é também uma forma de carregar as cargas uns dos outros (Gálatas 6:2) e cumprir a lei de Cristo.
Desenvolver a escuta é crescer em sensibilidade espiritual e emocional. A mulher que escuta com atenção edifica seu lar (Provérbios 14:1), conduz seus filhos com sabedoria, fortalece seus relacionamentos e se torna instrumento de Deus.
Que o Senhor nos ajude a sermos mulheres prontas para ouvir — ouvindo com o coração, com atenção, com amor, e sobretudo, com humildade diante de Deus e do próximo. Que possamos dizer como o jovem Samuel: "Fala, Senhor, porque o teu servo ouve" (1 Samuel 3:10b). Que o nosso coração esteja sempre disposto a escutar, para que, através da escuta, sejamos transformadas e também instrumentos de transformação.
Até mais queridas.
Sonia Pires
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