Atender ao chamado de Deus é realmente desafiador. Imagina você receber o chamado para fazer Missões em uma região totalmente desconhecida e repleta de costumes diferentes do seu. Com certeza, o desafio é ainda maior!
Assim aconteceu com a jovem Caroline Corrêa de Lima de Oliveira, 28 anos, membro da Igreja Assembleia de Deus Ministério de Paracambi (RJ), pastor presidente Ernesto Eutimo de Souza. Há dois anos, Caroline junto com seu esposo, o pastor missionário Alexander Oliveira receberam a missão de fazer a obra de Deus na ilha de Paricatuba, pertencente ao município de Melgaço (PA) para trabalhar com os ribeirinhos. Esse município possui o pior IDH (índice de desenvolvimento humano) do Brasil. Recém casados, Caroline e Alexander aceitaram o ide do Senhor e estão fazendo Missões naquele lugar.
Em entrevista ao site Mulher Cristã, a missionária falou do seu chamado, como surgiu, os desafios do dia a dia e ainda deixou uma palavra para todas nós. Confira agora mesmo!
Desde quando é cristã?
Graças a Deus nasci em um lar onde minha mãe já era cristã e nos criou (eu e minhas duas irmãs) nos caminhos do Senhor. Meu pai, apesar de não convertido, nos aconselhou também a permanecer nesse caminho.
Há quanto tempo você é missionária?
O chamado missionário se tornou mais evidente e real na minha vida no ano de 2015. Assim que me formei em Pedagogia, fui para o curso de Missões Pakau Oro Mon, que tem como responsável a missionária Kelem Gaspar. No ano seguinte me casei, e em 2017 retornamos ao campo como casal missionário. E estamos até hoje para a glória de Deus.
Como foi o seu chamado?
Essa é uma pergunta difícil (risos). Eu não sei como aconteceu, mas sei que aconteceu. Desde muito nova, nas igrejas, o Senhor usava pessoas para dizer que eu seria missionária, que eu iria para longe. Uma vez o próprio Senhor falou ao meu coração, através de uma visão, que o povo era os ribeirinhos. Cada palavra que recebia eu ia guardando no coração. Não imaginava que o chamado se daria tão rápido na minha vida. Tanto que não imaginava, pois seguia trabalhando, fazendo concursos... até que o tempo chegou e era já! E com sete meses de casados, eu aceitei aquele plano que o Senhor tinha para mim e vinhemos para cá.
Sabemos que todo trabalho de Missões é muito trabalhoso e espinhoso. Como é trabalhar com os ribeirinhos no Pará?
É bem desafiador! Primeiro porque somos de culturas diferentes. Tanto eu quanto meu esposo, pastor Alexander, fomos criados na região sudeste. Temos costumes, vocabulário, paladar, tudo daqui. E fomos para região norte que, mesmo sendo no mesmo país tem costumes totalmente diferentes. Por exemplo, aqui andamos de carro, moto ou ônibus. Lá tudo é feito pela água, transporte fluvial, por canoa ou barco. Essa já é uma diferença e tanto! Ainda mais para nós, que não sabemos nadar (risos).
Há dois anos trabalhamos com essa comunidade específica, uma ilha chamada Paricatuba, pertencente ao município de Melgaço. Esse município possui o pior IDH (índice de desenvolvimento humano) do Brasil! A pobreza é algo muito presente. Não possuímos energia elétrica e nem saneamento básico. Para termos poucas horas de energia fazemos uso de um gerador. Ficamos a quase 16 horas de navio da capital Belém. Esse é o cenário onde o projeto Missões Palti está instalado. Trabalhamos com as crianças dessa comunidade, aplicando aulas de reforço no contra turno das aulas da escola regular. No projeto elas recebem um lanche, material didático, e em todas as aulas, são ministrados discipulados.
Nosso objetivo para esse ano tem sido a construção do Refeitório, para ser oferecida uma refeição completa para nossos alunos. Cremos que no ano de 2020 esse refeitório já estará em funcionamento. Temos visto as mãos de Deus operar diariamente a favor dessas crianças e de suas famílias. Além do trabalho social que é extremamente necessário em comunidades como essa, exercemos também nosso papel como igreja.
A congregação ali no Projeto vai completar dois anos em setembro. Vidas têm sido transformadas, famílias restauradas. Casais que se casaram no Projeto e também se batizaram. Tivemos o privilégio de realizar o primeiro casamento ali naquela ilha! Imagine a felicidade de todos ao participarem de um ato tão importante quanto esse! Obreiros têm sido levantados nessa congregação e também mulheres valentes que tem posto conosco a mão no arado. Apesar dos espinhos e dos grandes desafios, trabalhar com os Ribeirinhos é uma honra para todos nós. Contamos com duas missionárias voluntárias no Projeto, Cintia e Bruna. E temos como liderança espiritual o pastor Alexander, meu esposo. Toda nossa equipe compreende a responsabilidade que é esse trabalho. Contudo, nenhuma dificuldade ofusca a alegria de se cumprir essa missão do Ide.
Quais são os desafios que você enfrenta ao evangelizá-los?
Os desafios são inúmeros. Como já relatado, temos as dificuldades físicas. Falta de energia é algo bem desafiador, muitas vezes os cultos são realizados a luz da lanterna. O meio de transporte também. Para comprarmos qualquer coisa precisamos ir à cidade mais próxima, Portel, que fica a 40 minutos de canoa da comunidade onde moramos. Todo material de construção tem que ser comprado nessa cidade, colocado no barco, atravessar toda a baía e descarregar no Projeto. Para isso acontecer, gastam-se muitas vezes, um dia inteiro! Não é fácil. Se precisarmos ir ao médico, fazer compras no mercado, tudo precisa ser feito na cidade. Temos a dificuldade para conservar os alimentos, pois precisamos comprar gelo para não estragarem. É uma realidade totalmente diferente que conhecíamos e estávamos habituados. Temos também os desafios de encontrar bichos bem perigosos, como cobras. Há bastantes animais nos cercando por todos os lados.
No entanto, nada se compara as dificuldades espirituais que enfrentamos. Adentramos diariamente em território que outrora já havia sido conquistado por satanás. As batalhas espirituais são severas. Recebemos ameaças no intuito de nos intimidar e fazer-nos recuar. Porém, em tudo vemos a mão de Deus nos fazendo permanecer no lugar que Ele escolheu para nós. Para isso, contamos sempre com as orações dos justos, pois sabemos que ela pode muito em seus efeitos. Temos vistos milagres e providências de Deus. Ele tem sido a nossa proteção.
Conte para nós um testemunho que tenha te marcado durante esta missão e por quê?
Sentimos o cuidado de Deus em cada detalhe. Um testemunho que quero contar foi o que vivemos, eu e meu esposo. Eu engravidei de nosso primeiro filho no campo missionário, em Paricatuba. Nós decidimos que nosso filho nasceria lá. Queríamos que fosse ribeirinho como eles. Nossa intenção era que ele já se adaptasse com o ritmo de vida que temos lá e não sofresse com o choque cultural. Passei bem durante toda minha gravidez, porém com 32 semanas de gravidez eu caí no segundo degrau da escada da casa pastoral. Nessa queda eu quebrei o pé. Foram momentos de muita tensão. Precisei operar e colocar parafuso para o osso do pé esquerdo se calcificar. Por conta da operação, eu comecei a perder líquido e o Emanuel poderia ser prejudicado. Na mesma semana em que operei o pé (numa segunda-feira), fiz também uma cesárea (na sexta-feira). Nosso Emanuel veio ao mundo enchendo nossa vida de alegria! Foi uma cesárea de emergência e ocasionou que nosso bebê broncoaspirou o pouco de água que ainda havia em meu ventre. A pediatra que o avaliou nos primeiros momentos de vida disse ao meu esposo que era para esperar o pior, pois nosso filho estava muito ruinzinho. Nosso chão se abriu naquele momento! Foram dias que pareciam não acabar. Mas o Emanuel não é nosso, é do Senhor. E durante aqueles dias, que foram 18 dias de internação na UTI neonatal, continuamos o entregando ao Senhor. E Deus ouviu nossas orações! Hoje desfrutamos da companhia de nosso filho saudável e muito lindo! Sabemos que o Senhor tem um plano lindo em sua vida e iremos contribuir no que pudermos para que isso aconteça. Hoje nós escolhemos por ele, ele é um de nossos missionários entre o seu povo ribeirinho. E nosso maior sonho é que, quando chegar a vez dele escolher, escolha também viver esse chamado de Deus.
O Senhor também restaurou meu pé e hoje posso caminhar sem dificuldade. Exaltado seja o Nome do nosso SENHOR!
Deixa uma mensagem para todas as mulheres cristãs que tem um chamado de Deus.
Mulheres amadas, sei que no mundo em que vivemos hoje o papel da mulher tem sido muito deturpado. Por vezes, confundimos o que temos, com quem somos. Você é a escolha de Deus para um projeto criado por Ele mesmo. E Cristo sempre vai nos bastar. O que aprendi com Deus, nesse tempo dedicado a obra missionária, é que Ele nos basta e preenche o vazio de nosso coração. Aquele encontro que Ele teve com a Samaritana, Ele quer ter com cada uma de nós. Se você estiver sedenta, não busque em fontes erradas! Não será um entretenimento, ou dinheiro, ou passeios, ou uma bela casa que vai te saciar. Posso te garantir que não precisamos de muita coisa para sermos felizes. Vivemos com tão pouco, junto de nossos irmãos ribeirinhos e temos tanto! Tanto de Deus, tanto de vida em abundância! Viver os planos de Deus para Sua vida e estar no centro de sua vontade é a melhor escolha a ser feita, ainda que não vá de acordo com as nossas vontades. Busque em Deus por direcionamento em cada decisão. Se dediquem a cada dia a ser uma boa serva, boa esposa e boa mãe. Somos a adjutora que o Senhor disse que faria. Esse papel não é pra ser desprezado. Esse papel é para ser honrado. Seja abençoada ao exercer a função que o Senhor lhe confiou! E nunca olhe para trás. Seguimos adiante, pois há uma recompensa para o nosso trabalho em Cristo Jesus!
Por Luciene Saviolli