Dizem que quem anda de bicicleta nunca esquece como andar de bicicleta – é só voltar a subir, se equilibrar e recomeçar a aventura, mesmo anos depois de desuso.
Eu não posso dizer se este ditado é correto, pois eu não sei andar de bicicleta. Quando eu era criança, a igreja evangélica que eu frequentava não incentivava o uso da bicicleta para as mulheres, por conta do fato de sempre estamos de saia. E sempre que meus pais pensavam na possibilidade de me dar uma bicicleta, um dos meus primos sempre sofria algum acidente sério com suas bicicletas, e eu ganhava outro presente de aniversário.
Para piorar ainda mais a possibilidade de eu pedalar, aos cinco anos eu fui atropelada por uma bicicleta, quando tentei atravessar a rua sem olhar com cuidado para os dois lados. Fiquei internada alguns dias, e talvez isto tenha me marcado o suficiente para não ter equilíbrio em todas as vezes que tentei andar em uma bicicleta emprestada. Atualmente, perto dos sessenta anos, eu gosto de montanha-russa, me entusiasmo com velocidade, mas já desisti de tentar a bicicleta, pois não teria graça me machucar gratuitamente nesta idade.
Sei que pedalar na bicicleta é lícito, e parabenizo quem anda bem. Mas, ao elencar coisas que não sabemos, podemos descobrir muita coisa boa em não saber algumas coisas.
Na verdade, hoje eu penso que não sei andar de bicicleta, mas graças a Deus, também não sei uma série de coisas: Não sei o que é usar drogas, pois sempre entendi que, com o próprio nome já diz, droga, definitivamente, não é algo que faz bem. Não sei qual é a sensação de ficar embriagada, ou de roubar algo que não me pertence. Não conheço a culpa de promover uma traição, e não conheço o remorso de provocar um adultério. Não sei o que é frequentar uma discoteca ou raves, e não aprendi a tragar baseados ou fumar cigarros. Não sei gostar de palavrão, e muito menos de gestos obscenos ou provocativos sexualmente.
Que alívio não saber algumas coisas! Até porque são muitos os que já foram adictos, e hoje sofrem para se manterem limpos. Há pessoas que lutam com suas tendências para jogo, outras precisam manter seus desejos libidinosos sob controle. Quem já falou muita palavra torpe, sabe exatamente quantas palavras surgem em suas mentes em momentos de estresse ou em situações injustas e revoltantes – pois tal como andar de bicicleta, elas não esquecem o caminho, embora se posicionem diferente após a conversão – o que faz com que, com o tempo, as decisões cotidianas de agirem diferente renova suas mentes, desbota suas lembranças e até mesmo altera suas tendências.
Prefiro pensar que, se é verdade que quem anda de bicicleta nunca esquece, há coisas muito boas que também não devemos esquecer.
Por exemplo, por que esquecer os belos hinos que cantávamos na infância? Eu fui criada ouvindo meus pais tocando os LP's de Feliciano Amaral, Otoniel e Oziel, Arautos do Rei e Luis de Carvalho. Minha adolescência foi passada ouvindo fitas cassetes de conjuntos, como Vencedores por Cristo, Novo Alvorecer, Grupo Logos, Novo Som e Grupo Elo, dentre outros. E, tal como andar de bicicleta, não me esqueço das letras e melodias, tão presentes em cultos domésticos e reuniões de jovens da chamada Mocidade!
Não esqueça os bons conselhos, não remova os bons hábitos, e não apague sua esmerada educação. A Bíblia já adverte: Não remova os marcos antigos que os seus pais colocaram. (Provérbios 22.28). Assim sendo, se preocupe menos com as coisas insignificantes que você não sabe praticar, e reforce a continuidade do que sabe ser edificante para a sua vida emocional, física e espiritual.
Guarde a prática do que você sabe ser bom para sua família e sua fé. E quando você perceber que deixou de praticar boas aprendizagens, como realizar cultos domésticos, ter palavras abençoadoras para sua casa, ou ser pontual nos cultos, lembre-se de que você não esquece como se faz!
Elaine Cruz
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