Minha mãe sempre dizia que a pior coisa era dever favor a alguém. Ela fazia questão de não esquecer o que havia recebido, e se organizava para retribuir o quanto antes o favor recebido. Isto implicava em devolver o agrado recebido através de um presente, a gentileza de oferecer um jantar, o reembolso de um empréstimo ou oferta financeira recebida, ou até mesmo retribuir o abraço ou a atenção que recebemos de alguém em um momento de luto ou de dor.
Aprendi com ela, e ao longo da vida, que enquanto estamos devendo um favor, não podemos deixar que o cotidiano apague da nossa memória o gesto ou afeto que precisamos retribuir. Não podemos deixar que nossa gratidão se transforma em desdém, ou que nosso raciocínio humano nos conduza a reflexões, do tipo: "eu bem sei que mereci a bondade alheia”, ou “o outro fez porque quiz, eu nem pedi a consideração dele”, ou “eu nasci para receber, e não vou me diminuir para retribuir nada a alguém”.
O egoísmo nos faz acreditar que somos merecedores e não devedores. E nosso narcisismo nos faz crer que nós somos mais importantes e dignos do que os que nos rodeiam. Assim, muitos gostam de receber, mas não aceitam dar ou doar seus talentos e dons a outras pessoas.
O apóstolo Paulo afirma que mediante trabalho árduo devemos ajudar os fracos, lembrando as palavras do próprio Senhor Jesus, que disse: ‘Há maior felicidade em dar do que em receber’. Deus, na sua soberania e imensidão, se preocupa conosco, doou o seu filho unigênito, e permanece nos sustentando em nossos momentos de erro ou fraqueza.
Somos tão pequenos, mas tão cuidados e honrados por Deus! Portanto, não há como não concordar com o que escreve o salmista: Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: Que é o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes? Tu o fizeste um pouco menor do que os seres celestiais e o coroaste de glória e de honra. Tu o fizeste dominar sobre as obras das tuas mãos; sob os seus pés tudo puseste: Todos os rebanhos e manadas, e até os animais selvagens, as aves do céu, os peixes do mar e tudo o que percorre as veredas dos mares. (Salmo 8.3-8).
A verdade é que há alguns favores, que recebemos de outras pessoas, e quem jamais teremos como retribuir. Como retribuir o favor de pais amorosos, que passam aperto financeiro para financiarem a escola para seus filhos? Como retribuir as noites em claro de mães à beira do leito de seus filhos? Como compensar as noites mal dormidas de pais que trabalham a noite, ou que se levantam ainda de madrugada para buscar sustento para seus lares? Como agradecer pelo cuidado amoroso, e pelas atitudes de fidelidade, de cônjuges que permanecem fiéis em momentos de doenças, de crises financeiras e momentos tristes?
Devemos amar, cuidar, zelar, ajudar, honrar, obedecer, e continuar fazendo atos bondosos ao longo dos anos, mas jamais iremos retribuir plenamente os amores de pais, filhos, cônjuges e irmãos leais, que se sacrificaram pelo nosso sucesso pessoal, e até mesmo pela nossa sobrevivência social e física. E de forma semelhante, jamais conseguiremos retribuir o cuidado, amor e salvação outorgadas por Deus a nós!
Assim, em datas comemorativas alusivas à Gratidão, o mínimo que podemos fazer é agradecer a Deus e as pessoas que amamos pelo amor e cuidado recebido. Mas que nos lembremos que continuamos a receber favores intermináveis (e até que desconhecemos) de Deus e, portanto, nossa gratidão precisa ser diária e constante.
Seja grato. Não fique devendo favores, mas seja cuidadoso(a) e rápido em retribuir as benevolências ou dádivas recebidas. E esmere-se em oferecer favores, mesmo sem receber o que você julga merecer. Lembre-se: É melhor dar do que receber!
Elaine Cruz
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