Creio que você deve ter ouvido a respeito de alguém, ou, quem sabe, até sobre você mesmo, a seguinte expressão: “Esse menino (ou essa menina) é muito pegajoso(a)”. Outra expressão é: “Ele(a) é muito apegado(a) à mãe”; ou mesmo, “Desgruda de mim, menino(a)!”. Lembra? O apego se refere ao vínculo que a criança tem com seus pais como fonte de referência desde a primeira fase da vida.
Não devemos estranhar que as relações de apego seguro encontram-se na raiz do desenvolvimento harmônico, especialmente no que diz respeito à saúde mental. Contextualizando para o espiritual, o apego a Deus é crucial na vida de seus filhos.
Moisés foi feliz ao compor o Salmo 91, que tem como epígrafe: “A segurança daquele que se refugia em Deus”. E, precisamente, o verso 14, que diz: “Porque a mim se apegou com amor...”; em outras versões, encontramos as seguintes expressões: “Porque tão encarecidamente me amou...”. Porque Ele me ama, e outra nos diz (e acho belíssima), “...pois que ele me consagrou o seu afeto”. Falamos anteriormente que o apego seguro aos pais ou cuidadores é crucial para o desenvolvimento da criança. Imaginemos o apego a Deus... Teremos resultados fantásticos! Cresceremos na graça e no conhecimento dEle, e ao mesmo tempo, aprofundamos nosso compromisso, nossa aliança e nosso respeito a Ele.
No contexto de mundo no qual vivemos, em que as relações são cada vez mais efêmeras e frias, a falta de autenticidade tem sido notória, então a figura de apego se torna rara, até porque não há apego à distância. Moisés foi considerado um dos homens que mais se aproximou de Deus; o próprio Deus, falando ao povo, disse: “Não é assim com meu servo Moisés... falo com ele face a face, claramente, e não por figuras” (Nm 12.7,8 – NVT). Que maravilha!
Bowlby foi um dos teóricos no campo da psicologia que desenvolveu a teoria do apego; e ele foi feliz quando sinalou que os apegos têm quatro características distintas e todas estão relacionadas a uma figura de apego:
1. procurar e manter a proximidade física (manutenção da proximidade);
2. procurar ajuda ou conforto (porto seguro);
3. sofrer com separações prolongadas (sofrimento de separação);
4. utilizar uma figura de apego como base de segurança para o envolvimento em atividades sem apego (base segura).
Em geral, apego seguro gera vínculos saudáveis. Vínculo é tudo aquilo que liga, que ata ou aperta. Vincular-se significa relacionar-se. Quem se apega a Deus torna-se um com Ele (1Co 6.17). Só nos apegamos a alguém que amamos, que queremos, que nos relacionamos e nos comunicamos, como também nos apegamos com amor àqueles com que convivemos.
Com Deus não é diferente. Enoque se apegou tanto a Deus, que Ele o tomou para Si. Não foi diferente com um grande número de servos de Deus. À medida que nos apegamos a Ele em amor, desenvolveremos em nós as qualidades dEle. Com razão Paulo disse: “Sede, pois, imitadores de Deus como filhos amados” (Ef 5.1).
Por isso a empatia, a sensibilidade e o respeito pelo outro são cruciais ao relacionamento, seja familiar, conjugal ou interpessoal. Se você é uma pessoa que não teve apegos seguros, sente-se insegura e ansiosa, não se deixe levar por um ciclo vicioso, vitimando-se, pondo sempre sua falta de resiliência em alguém, tal como: “Eu fui criado(a) assim, não recebi amor, minha vida não pode mudar”. Não reforce esse padrão de comportamento, mas entre numa “espiral libertadora”: supere os traumas, olhe para Jesus, apegue-se a Ele, e certamente sua vida mudará, como aconteceu com Jabez (1Cr 4.9).
Recordemos mais uma vez o Salmo 91.14 (na versão King James): “Porque ele pôs o seu amor sobre mim, portanto eu o livrarei; eu o colocarei no alto, porque ele conheceu o meu nome”. O apego a Deus é seguro, nele não há mudança, nem sombra de variação (Tg 1.17).
Em Deus encontramos as quatros características relacionadas à figura de apego:
• Proximidade –“Vinde a mim todos os cansados e sobrecarregados” (Mt11.28);
• Porto Seguro - nEle encontramos ajuda e conforto: “Torre forte é o nome do Senhor, para ela correrá o justo e estará em alto retiro” (Pv 18.10);
• Amparo - quando sofremos com separações prolongadas, e sentimos uma sensação de desamparo, Ele é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Sl 46.1);
• Ele é tudo em todos, é a nossa base segura - Ele preenche o que nos falta. Disse Paulo aos Colossenses: “E estais perfeitos nele, que é a cabeça de todo o principado e potestade” (Cl 2.10).
Que o Senhor nos ajude a nos apegarmos cada vez mais a Ele, pois somente desta maneira sobreviveremos em um mundo conturbado e sem direção. Deus abençoe a todos!
Judite Alves
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