Os dias de hoje são dias de muita apreensão, expectativa e incerteza para alguns; de perdas, de medo e de pavor para outros. O que apóstolo Paulo, na sua carta aos Romanos, disse é notório em nossos dias: “A natureza criada geme até agora, como em dores de parto’’ (Rm 8.22).
Nestes dias estive pensando como se tornou difícil a vida para muitas de nós! Tivemos que nos reinventar, rever nossos valores e o tempo gasto com o supérfluo. De fato, coisas que poderiam ser dispensadas, muitas vezes nos ocupávamos com elas. A situação de hoje se impôs sobre nós sem que estivéssemos preparadas. Fomos levadas não a fazer escolhas, porque há apenas um caminho, que para muitas de nós foi voltar os olhos para o lar. Não poucas mulheres já não mais sabiam o que era ser a dona da casa. A jornada de trabalho, as viagens, as que dispunham de secretárias em casa que supriam muito bem a necessidade de ter o ninho em ordem, tudo parece que levantou asas e se foi. Filhos que desejavam uma mãe e um pai presentes, mas que recebiam, no lugar dessa presença, bons lanches, presentes ou permissão para o uso da tecnologia sem supervisão. A pandemia chegou e foi como um “freio de arrumação”.
Quando estamos em um ônibus lotado e não sabemos onde colocar o pé, de tão cheio que está, e de repente, o motorista freia repentinamente, muitas vezes, estranhamente, esse incidente traz uma melhor acomodação dos passageiros. Foi assim que aconteceu às famílias. Os que só se encontravam nos finais de semana de maneira superficial, sem desenvolverem a afetividade, no freio de arrumação tiveram que começar a treinar a convivência que haviam perdido.
Uma pessoa que acompanho pediu-me ajuda, pois a família não mais desfrutava de uma convivência normal, antes, quando se sentam na sala, ninguém tem assunto para falar. Cada um com o seu celular sabia interagir remotamente com outros, mas com a família que estava ali na frente não sabia mais conversar. Graças a Deus que aquela mãe percebeu e começou a se perguntar: “O que fiz como minha família? O que faltou em mim que meus filhos não conversam suas coisas comigo?” Ela começou a desenvolver sentimento de culpa, e ao pedir minha ajuda disse: “Quero minha família de volta!"
E você, está disposta a voltar ao lar? Talvez você tenha uma família, mas falta transformá-la em um lar (Sl 128). Aquela senhora correu atrás do prejuízo e, na sua aflição, falei-lhe que começasse a olhar as fotos antigas da família a fim de resgatar a história familiar. Depois dessa iniciativa, as perguntas sobre os ancestrais começaram a brotar, o casal começou cada um a contar como eram suas famílias de origem, os filhos agradeceram, pois não sabiam tanta coisa bonita, engraçada e também coisas não tão boas. Mas, ainda estas, serviram de aprendizado e tema de conversações posteriores. Estimular esse momento caiu como uma luva, e durou pelo menos um mês assim. Momentos de oração pela família surgiram e os filhos passaram a entender melhor seus pais pelas suas histórias de vida deles.
As famílias estavam clamando por mudanças, isso era perceptível através do comportamento, da inversão de valores, principalmente, no que diz respeito aos papéis familiares. A violência, a agressão verbal e psicológica levou muitas famílias à frieza, à falta de empatia, ao desrespeito, ao caos.
A Bíblia diz que Deus usa as coisas que não são para confundir as que são. Lembra do que Deus usou para chamar a atenção do profeta Jonas? Uma planta! Não foi diferente com o mundo, ele parou e tivemos que nos rearranjar. Como filhas de Deus, passamos a cultuar em casa, em vez de estarmos no templo. Como família, veio o desafio de vivermos as 24 horas com nossos cônjuges e filhos sem passeio, sem shopping centers ou academias. Mas, como dizem as Escrituras, em todas essas coisas somos mais que vencedoras “por Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8.37). Estes dias passarão e o que restará serão as memórias do que construímos juntos em meio à crise. Não permita que o caos do mundo interfira na paz que você deve nutrir no lar. Pense que Deus lhe impôs essa realidade. Você não a buscou. O que nos resta é descansarmos no Senhor, crendo que Ele sempre nos levará para aquele lugar onde Ele está. O lar é essa antiga nova casa na qual Ele nos espera.
Meu abraço!
Judite Alves
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