Logo após o período de carnaval, no nosso calendário temos a chamada quarta feira de cinzas. Este é o primeiro dia da chamada quaresma, que pode ser definido como um período de jejum e arrependimento, estabelecido pelo catolicismo no século IV, em preparação para a celebração da Páscoa. E claro, acontece logo após o carnaval, para que as pessoas se purifiquem de seus pecados cometidos durante estes dias em que se entregam a práticas errôneas e contrárias a Deus.
A Bíblia não ensina a quaresma, e muito menos libera as pessoas para tirarem dias para satisfazer as obras da carne. Jejuar, orar, refletir sobre a vida, decidir não pecar, e se santificar para ser separado e estar próximo de Deus, devem ser atitudes cotidianas. Nosso prazer deve estar na lei do Senhor, e na sua lei meditarmos de dia e de noite (Salmos 1.2). Sabemos que a penitência não leva ao perdão – só o sangue de Jesus nos purifica dos pecados!
É bom nos lembrarmos que se vestir de pano de saco e colocar cinza sobre a cabeça era, no Velho Testamento, uma forma de comunicar aos outros certas emoções ou atitudes. Um exemplo tem em Ester 4.1: Quando Mardoqueu soube de tudo o que tinha acontecido, rasgou as vestes, vestiu-se de pano de saco e cinza, e saiu pela cidade, chorando amargamente em alta voz. O pano de saco ou “cilício” era na verdade um tecido grosseiro e resistente, feito de pelos de cabra ou de camelo, utilizado para conter cereais, objetos e alimentos em geral. Vestir-se de cilício e cinza era sinônimo de angústia, sinal de tristeza e lamentação, especialmente devidas à morte ou às calamidades. Era também uma forma de humilhação para pedir bênçãos e livramentos a Deus, ou demonstração de arrependimento.
Jesus, ao estabelecer a Nova Aliança, não exige o uso de pano de saco ou cinzas. Ele chega a dizer que: Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os homens vejam que eles estão jejuando. Eu lhes digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena recompensa. Ao jejuar, ponha óleo sobre a cabeça e lave o rosto, para que não pareça aos outros que você está jejuando, mas apenas a seu Pai, que vê no secreto. E seu Pai, que vê no secreto, o recompensará”. (Mateus 6.1618).
Deus não está interessado nas emoções que queremos demonstrar aos outros, mas no nosso ato contrito diante dele. Por mais que as aparências e roupas demonstrem nossa índole e comprometimento com a seriedade do evangelho, precisamos levar cinzas à nossa alma – carecemos ter uma alma que se arrependa quando erra, que se humilha quando é abençoada, e que se dobra diante de Deus para pedir mais graça, poder ou força. Assim sendo, todos os nossos dias precisam ser dias em que nos voltemos para Deus, mas que também olhemos para o nosso interior, declarando como o salmista: Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me, e conhece as minhas inquietações. Vê se em minha conduta algo que te ofende, e dirige-me pelo caminho eterno. (Salmos 139.23,24).
Quando seus filhos e amigos perguntarem pelas quartas-feiras de cinza, lembre-os de que todos os dias precisamos nos recompor, nos santificar para Deus. Mas, o mais impressionante, é saber que temos um Deus que nos enviou Jesus, que nos presenteia com uma coroa ao invés de cinzas: “O Espírito do Soberano Senhor está sobre mim porque o Senhor ungiu-me para levar boas notícias aos pobres. Enviou-me para cuidar dos que estão com o coração quebrantado, anunciar liberdade aos cativos e libertação das trevas aos prisioneiros, para proclamar o ano da bondade do Senhor e o dia da vingança do nosso Deus; para consolar todos os que andam tristes, e dar a todos os que choram em Sião uma bela coroa em vez de cinzas, o óleo da alegria em vez de pranto, e um manto de louvor em vez de espírito deprimido.” (Isaías 61.1-3).
Elaine Cruz
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