O nascimento de uma criança inaugura um sistema de comunicação muito curioso e interessante, em que os pais passam a ser os intérpretes de uma série de sinais dados por seus filhos: movimentos, caretas, choros, balbucios.
É uma forma de comunicar que envolve alguma ciência, mas muita criatividade, sendo o desejo e necessidade de interagir o fator principal desta fase tão linda da vida. A criança aprende e apreende o mundo pela imitação. Seus primeiros sorrisos e suas primeiras palavras são tentativas bem elaboradas de ensaio e erro, em que ela começa a se comportar de modo que entendemos – e então sorrimos de volta e fazemos uma festa pelo som que conhecemos, como “papá, acho, mamã”.
A fala é uma das mais importantes ferramentas para o desenvolvimento humano. Começamos a falar repetindo fonemas e sons que ouvimos no meio social, mesmo que o significado dos mesmos se formem depois. É lindo ver uma criança de 2 anos usar palavras como então ou assim, sem que ela tenha a mínima consciência do significado ou das regras ortográficas gramaticais. Mas a criança ouve, fala, repete, e com o tempo vai aprendendo a significar, a colocar as palavras adequadas às frases.
A fala gera uma revolução interna. Num primeiro momento ela segue a ação (a criança rabisca e depois diz o que desenhou), num segundo momento acompanha a ação (vai falando o que está fazendo enquanto desenha), e num terceiro momento antecede a ação (diz antes o que vai desenhar). A fala e os atos se completam, auxiliando o pensamento a se expandir do concreto ao abstrato, produzindo atos pensados, mesmo que traduzidos em manhas, choros fingidos, e verdadeiros atos teatrais muito bem elaborados, a ponto de muitos pais ficaram seduzidos e obedientes aos desejos de seus filhos.
Através da fala conversamos sobre tudo e nada, conhecemos mais sobre as pessoas, elaboramos sentimentos e organizamos a cognição. Mesmo quando adultos, sempre que nos vemos desorientados ou preocupados, podemos nos perceber falando sozinhos, em uma conversa apreensiva que busca uma direção. A fala comunica o que pensamos, ela começa em nosso pensamento, e temos um Deus que a conhece ainda quando gerada: Antes mesmo que a palavra me chegue à língua, tu já a conheces inteiramente, Senhor. (Salmo 139.4). Lucas 6.45 ainda atesta: O homem bom tira coisas boas do bom tesouro que está em seu coração, e o homem mau tira coisas más do mal que está em seu coração, porque a sua boca fala do que está cheio o coração".
O curioso é que, além de usar a fala como um instrumento de comunicação, nós mulheres a utilizamos mais para nos relacionar. Quando dois homens conversam, eles o fazem com uma certa sintonia estranha para a maioria das mulheres. Eles dificilmente começam a falar ao mesmo tempo, e se o fazem o primeiro a perceber pára (às vezes diz: fala você primeiro...) e permite que o outro continue o seu discurso. Quando um fala o outro escuta, e espera uma pergunta ou o momento propício para interromper e expressar a sua opinião sobre o assunto em questão. Não é fabuloso? Para as mulheres é difícil compreender a lógica do “um fala e o outro escuta”. Quando se encontram, não raro elas iniciam a fala ao mesmo tempo, mesmo que sejam três ou quatro num só grupo. Elas se tocam enquanto falam, falam enquanto as outras falam, e escutam umas às outras concomitantemente! Eventualmente, ainda conseguem dizer algo com os lábios, e fazer uma outra observação com os olhos, sobre a roupa ou o cabelo de uma mulher que passa pelo grupo enquanto conversam.
Esta é a razão pela qual muitos homens se sentem cansados se tiverem que passar o dia conversando com casais amigos, e forem obrigados a desfrutar o dia ouvindo as suas esposas e suas amigas. Para eles a fala comunica. Para nós mulheres, de uma forma mais consciente, a fala nos relaciona, nos une. Nós precisamos falar, expor o que nos fere, discutir um problema à exaustão. E nossos homens (pais, maridos, filhos, genros) nem sempre entendem nossa necessidade de falar, comunicando o que sentimos, queremos ou pensamos.
O grande problema é sabermos quando parar. É reconhecermos quando nossa fala não mais comunica ou nos relaciona favoravelmente, mas reclama, suscita brigas e discussões, e se repete a ponto de nos tornarmos rixosas, faladeiras e briguentas, como uma goteira sem fim, que atormenta quem se relaciona conosco: Melhor é viver no deserto do que com uma mulher rixosa e amargurada (Pv 21.19); Melhor é viver num canto sob o telhado do que repartir a casa com uma mulher briguenta. (Pv 25.24).
Organize sua linha de raciocínio, mesmo que tenha que listá-la num pedaço de papel, antes de chamar seu marido para discutir a relação conjugal. Repense seus sentimentos antes de brigar com seus filhos. Há muitas mulheres que extravasam sua raiva, frustração e descontentamento em palavras que ferem, marcam uma existência, e que nunca mais vão poder ser apagadas. O que falamos pode ser perdoado, mas não pode ser apagado da memória de quem ouviu. Palavras ditas em poucos segundos marcam uma vida inteira. Guarde suas palavras para Deus. Ore mais. Converse com ele sobre o que você sente, pensa, deseja e projeta. Fale com ele em todo o tempo, pois ele gosta de se relacionar conosco – um amigo sempre pronto a ouvir, que nos dá um Consolador que conversa conosco interna e intimamente, sendo capaz de alterar nossos pensamentos e idealizações.
Conversar com Deus é maravilhoso: Ele não se assusta com nossos erros, não conta a outros nosso segredo, não usa nossas palavras contra nós mais tarde, não nos prejudica porque sabe nossos pontos fracos. Pelo contrário, Ele nos ajuda em nossas fraquezas, e fortalece nossa mente para refletir nas coisas que são de cima, ajudando-nos a pensar e falar o que é amável, louvável, de boa fama, nobre, correto puro e bom.
Elaine Cruz
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